quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


LIBERTAÇÃO

Libertação "de todos os pecados" significa, para os evangélicos luteranos, que eles são livres do seu passado, da sua consciência presa à eterna autodefesa. Somos livres no nosso dia-a-dia para uma ação responsável, embora arriscada - uma ação que visa defesa da vida humana. No exercício de nossa responsabilidade, não nos atormentamos quando urge tomar decisões que envolvem conflitos em normas. Insistimos em seguir a Jesus (Mc 2.23 - 3.6). E nos valemos do consolo de Lutero: "Peca com coragem, mas crê e alegra-te tanto mais em Cristo." Experimentamos que a solidariedade com os oprimidos e deprimidos não termina onde se cai em culpa. Luta séria contra opressão dificilmente fica a salvo da culpa. Jesus Cristo traz perdão para a pessoas que se tornam culpadas por salvaguardar a outras.

Libertação "da morte" significa, para os evangélicos luteranos, que eles mantêm a esperança mesmo no desespero (Rm 4.18). Nós temos "a liberdade dos sem-esperança" (J. Moltmann, teólogo protestante, contemporâneo respeitado) Não desanimamos com seguidos fracassos. Enxergamos longe. Mostramos que os mecanismos da preocupação e do medo deixam a pessoa passiva, induzindo-a a acomodar-se. Desmascaramos a desarmarmos tais mecanismos e, em situação de risco, sabemos que a morte jamais é o fim. Em conseqüência, a vida, seja ela como for, não é tudo. Evangélicos luteranos o comprovam em sua existência. Estão conscientes de que todos os movimentos de libertação começam quando um punhado de pessoas perde o medo.

Libertação "do poder do diabo" significa, para os evangélicos luteranos, que eles são livres dos seus "instintos, inclinações e circunstâncias" (H. J. Iwand, teólogo evangélico luterano já falecido, intérprete magistral de Lutero). Alegramo-nos por sermos aceitos sem precisar demonstrar o nosso valor e a nossa produção. Somos valiosos independentemente das nossas posses e dos nosso conhecimentos. Por isso evangélicos luteranos já não se sentem constrangidos a fazer ídolos de si mesmos. São autocríticos e, antes de desconfiarem dos outros, desconfiam de si. Tiram primeiro o pedaço de madeira que está no seu olho e então vêem bem para tirar o cisco que está no olho de outras pessoas (Mt. 7.5). Não se preocupam com monumentos de si próprios pois sabem que glorificar-se da sua obra é sinal de escravidão (Iwand).

SEM PROIBIÇÕES

Assumindo "a liberdade para a qual Cristo nos libertou", tudo é nosso ( 1 Co 3.22). Tudo está à nossa disposição. Nada nos mete medo. Não há proibições para nós.

Acontece, todavia, que existe mais receio dessa liberdade do que alegria de vivê-la. Quem a experimenta de fato? A maioria, também entre os evangélicos luteranos e as evangélicas luteranas, prefere "se submeter de novo ao jugo da escravidão: (Gl 5.1). Gosta de penas "debaixo dos elementos do mundo"(4.3), tais como temores e ilusões, moda e opinião comum idéias fixas e superstições.
Tudo é nosso: fumo, bebida alcoólica, dança, baralho, loteria, opção sexual. Na medida em que vivemos "a liberdade para a qual Cristo nos libertou", mandamos embora regras e tutores. Sabemos que tudo é nosso - mas atenção: nós somos de Cristo (1 Co 3:23). Quer dizer: temos liberdade de usar tudo, porém fazemos escolhas e não nos tornamos dependentes. Aprendemos com cristãos e não-cristãos, mas selecionando com critério, pois somos de Cristo.

Quando ficamos dependentes de algo ou de alguém, voltamos "de novo ao jugo da escravidão". Se formos incapazes de parar de beber, fumar, jogar devorar pratos preferidos, por exemplo, a nossa dependência é patente. Poder abrir mão de qualquer dos hábitos mencionados é a "prova dos nove". Se o conseguimos, somos livres. Do contrário, somos escravos. Se não conseguimos articular e viver a fé sem tutelamento de terceiros, viramos as suas criaturas e deixamos de ser criaturas de Deus.

Seríamos superficiais se detectássemos apenas uma eventual dependência nossa de certas pessoas ou dos chamados "vícios". Descobrimos dependências mais perigosas do que fumar ou apostar em jogos de azar, por serem encobertas e aparentemente não prejudicarem a saúde e o convívio familiar. É o caso da dependência da posição social, da família, da nossa cabeça dura, daquilo que se decorou, dos preconceitos raciais, morais, políticos. Destas dependências pouca gente se lembra. Não obstante, elas são arrasadoras para a vida e o relacionamento das pessoas.

Está claro, pois, que dificilmente há pessoa que não revele "vício" ou dependência. Vejamos quem está na pior: quem não pode viver sem cigarro ou quem sempre teima em ter razão? Um fumante inveterado ainda se agüenta. Mas quem nunca admite falha é chato demais. E como saímos disso?

COMUNIDADE TERAPÊUTICA

"A liberdade para a qual Cristo nos libertou" se recebe "onde dois ou três estão reunidos em seu nome" (Mt 18.20) a comunidade.

Nesta ela é recuperada, defendida e mantida. As dependências de toda sorte se combatem de maneira eficiente em conjunto.

A comunidade é o lugar de terapia. A terapia inicia com a pergunta: por que a pessoa é dependente? No processo de cura, é preciso haver humildade, abertura, compreensão, confiança e esperança. Em especial, a ida constante à refeição em que Cristo mesmo é "a comida e a bebida, o cozinheiro e o jargão" (Lutero): a Ceia do Senhor. Ela é o remédio que ataca o vício de toda espécie e liberta de todo tipo de dependência.

Eis a convicção dos evangélicos luteranos e das evangélicas luteranas vividos, calejados, cheios de experiência.

SEM EGOÍSMO

"A liberdade para a qual Cristo nos libertou" não nos larga à mercê do nosso bel-prazer. Deste jeito, a usaríamos "por pretexto de malícia"(1 Pe 2.16). O nosso egoísmo se apoderaria dela.

Somos livres, sim, exatamente da "lei da nossa própria liberdade" (Moltmann). Motivo pelo qual escreve Paulo: "Não sois de vós mesmos, mas de Cristo" (1 Co 6.19; 3.23). E Lutero confessa: Jesus Cristo "me resgatou e salvou para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu Reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança".

Ser cristão resulta, para os evangélicos luteranos e as evangélicas luteranas, em dar-se aos semelhantes como Cristo se deu às pessoas. Lutero:"O cristão é um servo dedicado a tudo, a todos sujeito." E de forma mais concreta: "Deve-se ler a vontade de Deus nos olhos dos necessitados.

Aí colocamos os nosso pés na poeira e metemos as nossas mãos no barro. Cerramos fileiras com aqueles que lutam por pão e saúde, teto e terra, escola, vida partilhada, cidadania, organização popular e transparente da sociedade. Nos solidarizamos com o povo cujo suor e cuja consciência foram roubados. A nossa solidariedade com o próximo chegará ao seu alvo quando o auxiliarmos a ser alcançado pela vida plena: Jesus Cristo empregando-o no seu exército de libertação.

LIVRES LIBERTADOS, EM TUDO

Às vezes, Martim Lutero se chamou "o livre libertado" e assinou assim documentos seus. Deste modo sintetizou o ser-cristão todo. Nós, evangélicos luteranos e evangélicas luteranas, aprendemos isso com ele. Oxalá todas as pessoas o aprendam com ele!

Os evangélicos luteranos são livres libertados. Consequentemente, dispensam sacerdotes. Eles mesmos são sacerdotes com quem Deus fala e através dos quais ele atua junto à Igreja e à Sociedade. Nós encaramos as tarefas na Igreja e a política na Sociedade como alegre serviço a Deus prestado para com homens e mulheres.

Os evangélicos luteranos são livres libertados, participantes e semeadores da vida plena. Consequentemente, promovem a medicina popular e apoiam os agentes de saúde. Ajudamos a organizar movimentos populares que lutam por saneamento básico e assistência médica e hospitalar para todos, em todos os recantos do País. Mesmo assim, a saúde não é o nosso deus, nem a doença nos separa de Deus, cujo rosto brilha em Jesus Cristo.

Os evangélicos luteranos, os livres libertados, são da Igreja de Pedro e Paulo, dos primeiros livres libertados (p. ex. At 2.14-47; 5.17-42; 10 - 11.18 e Gl 2.11-21; 4 - 5). Consequentemente, militam para que a Igreja de Pedro e Paulo emerja, se articule e se mova, aqui e hoje. Para nós, tal militância é a mais honrosa. É o bom combate pela Igreja certa. Igreja certa é a Igreja que segue a Jesus Cristo, briga e sofre por causa dele. Ë a Igreja que nada quer para si própria, mas tudo para Jesus Cristo ( 1 Co 2.2; Gl 6.14; Fp 3.3-14) e os seus mais pequeninos irmãos (Mt 25.31-46).

Os evangélicos luteranos são livres libertados.

Consequentemente, não gastam forças, tempo e dinheiro com a estruturação eclesiástica. Nós nos batemos para que todos "vasos" eclesiásticos, a começar pela IECLB, estejam a serviço exclusivo do Reino de Deus. Esperamos e apressamos de toda maneira a vinda do novo céu e da nova terra, onde reina a justiça (2 Pe 3.12s.). Agimos na firme certeza da intervenção direta e definitiva, iminente de Deus (Ap 21): enxugamos logo as lágrimas; consolamos já os entristecidos; compartilhamos agora as dores; aliviamos de pronto os sobrecarregados; resistimos hoje à morte e aos seus capangas; derribamos imediatamente os muros entre as pessoas e acabamos com as classes de qualquer ordem. Sempre, no entanto, apontamos para o próprio Deus, que vai morar em breve com os seres humanos, vai ser tudo para eles, e eles serão o seu povo (vv. 3,22ss.).

Eis os evangélicos luteranos e as evangélicas luteranas de todos os tempos e lugares! Assim é o seu jeito.

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